terça-feira, 8 de janeiro de 2013

há um ano

Adorava saber escrever. Adorava ter o poder das palavras. Ser da área das ciências não ajuda... Passar o dia na objectividade, na mensuração, na estatística nos parametros clínicos muito menos. Adorava saber escrever...
De vez em quando, escrevo o que tiver de sair. O que me apetece, e guardo. Guardo naquele separador que aparece em todo o lado: rascunhos.
Hoje faz exactamente um ano que "saía" isto. "Sai" agora, porque tudo já foi mastigado e digerido.




Sopra um vento tão frio hoje que me gela a alma.....

Sopra um vento tão frio hoje que me gela a alma.
Sopra um vento tão frio hoje que me gela o meu coração, no cantinho mais fundo que tinha a certeza que pulsava forte. Gela o meu coração.
Sopra um vento tão frio que gela o meu cantinho mais seguro, mais protector e justo.
Sopra um vento tão frio que mesmo quando estive lá no alto, no mais alto da montanha a sós com ela nunca senti um gelo assim.
Sopra um vento tão frio que me gela por inteiro. Gela tanto tanto que nunca senti tanto frio, tanto gelo. "Tanto mau".

Sopra um vento tão frio hoje que levou o mágico, o bom, o inexplicável, as borboletas da barriga, a força, o natural, o recíproco, a cumplicidade, a espontaneidade, a confiança, o porto tãoooo forte de abrigo. Levou o arrepiar tão involuntário de pele. Levou o "cá de dentro".

Sopra um vento tão frio hoje que levou todas as palavras, todos os actos, tudo que foi dado e recebido. Sopra um vento tão frio que me levou o passado, as histórias, as vivências. Sopra um vento tão frio hoje que levou o garantido, o que foi dito.

Sopra um vento tão frio hoje que me trouxe o vazio.

Sopra um vento tão frio hoje que me fecho dentro do meu casaco e do gorro. Fecho-me. Tão fechadinha, não quero que entre nem mais um pouco deste frio.

Sopra um vento tão frio hoje que congelou a àgua. Simplesmente congelou.
A àgua, que corria com tamanha força, mas com uma tamanha força que era capaz de contornar qualquer grão de areia, qualquer pedra, e sobretudo, a àgua que contornava qualquer rocha gigannnnnnte. Qualquer! A àgua que correria com força para a frente, que levaria os dois.
Congelou.

Sopra um vento tão frio hoje que me trouxe a mágoa tão forte mas tão forte.
Sopra um vento tão frio hoje que me tirou a esperança e a vontade de acreditar que estava a ser uma grande engenheira. Eu construi tanto. Eu construi tão bem.
Sopra um vento tão frio hoje que a teimosia a birra e um medo GIGANTE deitou abaixo. Deitou tudo abaixo.

Sopra um vento tão frio hoje que gela o muito muito muito amor...
Sopra um vento tão frio hoje que fez com que me perdesses

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